terça-feira, 20 de agosto de 2013

Titãs em Araçatuba – O peso da experiência


Em 2013 o Titãs completa 31 anos de história. Período suficiente para cravar o nome no imaginário do rock nacional dos anos 80, seguir tocando na década seguinte, perder metade de seus integrantes fundadores e viver inúmeros encontros e desencontros com os fãs. Com esse rico histórico nas costas, Paulo Miklos, Branco Mello, Tony Belloto e Sergio Britto desembarcaram em Araçatuba no último sábado, na mesma casa de shows em que os Paralamas do Sucesso se apresentaram há exatamente um ano e uma semana atrás.  

Leia sobre o show dos Paralamas aqui.

A noite começou com uma ponta de frustração. A área vip, sim, a tão discutida área vip (ou seja lá qual nome tenham dado pra essa aberração) estava lá. Um espaço com mesas localizado logo a frente do palco. No show de um ano atrás isso já existia, mas dessa vez ocupava inacreditavelmente metade do salão. Isso sem falar que já havia um lugar diferenciado da pista, um mezanino em volta de quase todo o espaço, onde, se houvesse bom senso, deveria ser o único lugar alem da pista comum.

Enquanto isso, no palco acontecia algum oba-oba dos patrocinadores do show, algo meio difícil de entender, um garoto de uns 7 anos tocava bateria acompanhando um adulto no baixo (!!!). Durou apenas alguns minutos. Até que um pouco mais tarde subiu ao palco a banda de abertura, pelo nome do grupo local já dava para prever tudo, Diretoria Pop. Versões insossas de sucessos do pop rock nacional anos 80 e 90. Não chegou a ferir os ouvidos, mas tudo tinha aquela cara de “já vi mil vezes e muito melhor”. Diferente do ótimo e também local, RockNatu, que abriu para os Paralamas.

Área vip bombando #sqn


O saldo da noite até então era desanimador. Tudo apontava para o pensamento de: “O que que eu to fazendo aqui?”. Mas o principal ainda estava por vir, então, tudo era relevável. Com aproximadamente meia hora de atraso, os Titãs remanescentes mais o baterista Mario Fabre apareceram no palco. Havia certa apreensão sobre como seria o repertório, uma duvida de como ele poderia ser dividido entre o excelente período clássico da banda e a fraca safra mais recente. Possivelmente a primeira música diria muito sobre como seria a noite. E disse.

Sem falar nada a banda começou com a bateria introduzindo “Lugar Nenhum” em versão arrasadora. Esqueça arranjos de cordas, banjos e bandolins. No palco a banda adotou o formato cru, simples e direto. Fabre na bateria, Paulo Miklos e Tony Belloto nas guitarras (e apenas guitarras, nenhuma música com violão), Branco Mello no baixo e Sergio Britto no teclado e por vezes no baixo.

O setlist seguiu com a ótima versão de “Aluga-se” (do irregular disco “As Dez Mais”), “Diversão”, “Sonífera Ilha”, tudo rápido, urgente, como uma banda iniciante, mas com aquela segurança que três décadas de carreira trazem com facilidade.

Os hits vinham aos montes: “Homem Primata”, “Flores”, “O Pulso”, “Comida”. Da leva mais recente (leia-se: dos últimos 12 anos), veio “A Melhor Banda De Todos Os Tempos Da Ultima Semana”, que se não é grande coisa ao menos não compromete ao vivo, e “Epitáfio”, que quando pareceu que ia dar uma amolecida no show, o refrão veio pesado, áspero, contrastando (ou talvez até fazendo mais sentido) com a melodia melancólica.

Foto: Patrícia Guerra

No palco, os três vocalistas mostravam estilos distintos, mas harmoniosos entre si: Miklos era o mais roqueiro, com movimentos marcantes; Branco se portava com muita elegância, mesmo quando cantava aos berros parecia não se abalar; Já Sergio Britto era o mais elétrico, não parava no palco, interagia com o público e só se mostrava um pouco inseguro quando empunhava o baixo.

Antes de “Vossa Excelência”, Paulo Miklos, falou rapidamente sobre o caso da discussão entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, em que o primeiro acusa o segundo se fazer “chicana”. O vocalista terminou o relato com um sonoro “Vai tomar no cu”, o que introduziu a música aqui parecendo mais raivosa do que de costume.

“Estamos voltando a tocar essa depois de muito tempo, vamos ver como sai”, disse ainda Miklos, antes de começar “Domingo”. Uma das mais comemoradas pelos fãs de longa data foi “Desordem”, em versão alternando tensão e explosão. Outra versão a se destacar foi a feita para “Go Back”, comumente transformada em balada melosa por aí, no show surgiu como um reggae/dub que crescia entre dissonâncias no refrão.

Foto: Patrícia Guerra

“Polícia” foi tão rápida e tão pesada que faria inveja a regravação do Sepultura. Ainda em meio a “sujeira”, o show teve “Bichos Escrotos”, “AAUU” e “Cabeça Dinossauro”. Terminado o set normal, o bis começou com “Família”, única música da noite sem peso nas guitarras, e “Marvin”, uma das mais cantadas da apresentação.

Depois de deixarem o palco, a espera belo bis derradeiro vinha acompanhada da dúvida. O que viria? Algum hit arrasador? Algum som mais obscuro para os fãs? Paulo Miklos disse: “vamos tocar a saideira agora”. E veio o cover de “É Preciso Saber Viver”, e com ele uma grande brochada. Como poderia um show tão poderoso, terminar com uma balada? Mas felizmente a decepção não durou muito, logo no primeiro refrão Miklos já berrava de forma insandecida e as guitarras repetiam o vigor mostrado ao longo do show. No fim, o coro do público e um break emocionante antecederam o refrão final.

Com 31 anos, a primeira coisa a se pensar é em uma crise de meia idade, uma necessidade de saber qual caminho está seguindo, mas essa lógica para bandas é diferente, ainda mais para os Titãs. Coloque na balança a euforia da juventude, a ponderação - ou porque não, a caretice - da idade adulta, e encontre o equilíbrio necessário para voltar, com segurança, ao formato de apresentação mais simples possível, agradar novos e velhos fãs e flutuar com segurança entre as bandas mais importantes do rock brasileiro. Em 2014 os Titãs devem lançar disco novo, se as apresentações ao vivo forem o parâmetro, certamente teremos a banda no auge da maturidade que apenas grandes nomes conseguem alcançar. 



Setlist (a ordem não é exatamente essa, mas algo próximo disso)

01 - Lugar Nenhum
02 - Aluga-se
03 - Diversão
04 - Sonífera Ilha
05 - Homem Primata
06 - A Melhor Banda De Todos Os Tempos Da Ultima Semana
07 - Epitáfio
08 - Go Back
09 - Flores
10 - O Pulso
11 - Pra Dizer Adeus
12 - Comida
13 - Desordem
14 - Domingo
15 - Vossa Excelência
16 - Televisão
17 - AAUU
18 - Policia
19 - Bichos Escrotos
20 - Cabeça Dinossauro

Bis1:

21 - Família
22 - Marvin

Bis2:

23 - É Preciso Saber Viver

Um comentário:

Thaís Morrison, disse...

Amei o texto Dú. Nem vou falar o quanto amei o show. Viva Titãs.